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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Conhecendo e traduzindo Ansel Elkins

Unknown
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Ansel Elkins é uma poeta contemporânea de 34 anos, natural do estado do Alabama, no sudeste dos Estados Unidos. Ela cresceu nas encostas das montanhas Blue Ridge, em um ambiente rural, se mudando mais tarde para Greensboro, uma cidade da Carolina do Norte, onde vive atualmente como professora de escrita criativa da universidade local. Até o momento é uma poeta pouco estudada e nunca traduzida para o português, tendo tido seu primeiro livro publicado no início de 2015.
A poeta possui ascendência porto-riquenha, muito embora não fale espanhol e não tenha vínculos fortes com a comunidade latina nos Estados Unidos. Tendo vivido sua infância e adolescência em uma cidade do interior, conservadora e intolerante, Ansel foi vítima de preconceito por conta de suas raízes, o que fez com que ela nunca se encaixasse completamente na cultura americana.
Ao mesmo tempo, já que não manteve contato com sua família de Porto Rico, ela também não se identificava com a cultura desse país, nem com os imigrantes vindos de lá. Ela se considera uma mulher sem pátria, cuja mistura de origens resultou em seu desencaixe social e conflito identitário, temas muito frequentes em sua poesia. Além dessas temáticas, Ansel fala sobre feminismo, preconceito racial e relações familiares problemáticas, normalmente usando como pano de fundo uma atmosfera fantástica e/ou bucólica.
Sua poética foi premiada em 2014 com o Yale Series of Younger Poets — existente desde 1919, é o prêmio literário anual mais antigo dos Estados Unidos e se destina a poetas americanos com menos de 40 anos que nunca tiveram um livro publicado. “Blue Yodel” foi selecionado pelo jurado, e poeta renomado, Carl Phillps, tornando Ansel Elkins a primeira pessoa com origens latinas a receber o prêmio.
A poeta mostra uma preocupação em usar sua poesia como forma de atingir pessoas comuns e fazê-las repensarem a respeito da maneira com que lidam com a diferença, mas, além disso, ela também tem como pretensão atingir grupos que pregam a intolerância e cometem atentados contra as minorias. As experiências pessoais da autora deram a ela um arcabouço para tratar desses tópicos sensíveis, convertendo seu sofrimento em uma possibilidade de dar voz a outros que se encontram em situações parecidas, à margem da sociedade, e transmitir empatia.
A poesia de Ansel está muito menos ligada à forma do que ao sentido, sua poética é quase prosa, buscando uma comunicação direta com o leitor. Mesmo quando soa intimista, a autora sempre busca atingir, de uma forma ou de outra, o universal. Ela parte de situações pontuais, abordadas de maneira metafórica, para transmitir mensagens de (auto) aceitação, colocando em xeque preconceitos, estereótipos e verdades absolutas.

O poema “Adventures of the Double-Headed Girl”, traduzido a seguir, é inspirado nas história de gêmeas siamesas famosas nos séculos XIX e XX, Millie e Christine McCoy, e Daisy e Violet Hilton. A poesia chama atenção para o fato de que a peculiaridade que envolve as meninas é vista como um modo de espetacularizar suas vidas e satisfazer os homens ao seu redor. As gêmeas que inspiraram o poema foram vendidas para o circo e passaram seus dias fazendo performances artísticas e se submetendo às excentricidades de homens ricos. Quando são catalogadas por cientistas, as gêmeas do poema perdem todo seu lado humano, se reduzindo a aberrações.
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Mais do que aludir ao fantástico, Ansel coloca em pauta, a partir de uma situação extrema, a frequente objetificação das mulheres. Desse modo, “Adventures of the Double-Headed Girl” pode ser visto como um poema feminista emblemático da autora, que agrupa ao mesmo tempo a sua tendência de dar voz ao “outro” e a de partir de um caso específico para abordar um tema geral.

Aventuras da Menina de Duas Cabeças
 
                De fato, somos um ser estranho
                                                             unidas, eixo de uma espinha compartilhada
por trás das lentes, cientistas nos examinam
                                                             lusus naturae – nosso nome é catalogado a lápis  
                encantados, os cavalheiros imaginam  
           possuiria duas mulheres de uma vez?
                                                             chegando na bifurcação da estrada, um homem
                                                             alisará seus bigodes, ponderando as possibilidades,  
                                                             e decidirá astutamente sim, é melhor
abater duas lebres com uma cajadada só
                                                             o cuspidor de fogo nos dá uma piscadela
                    está flertando comigo ou com você?
                                                             eu jogo um beijo no ar  
                                                             com minha luva de borracha
 homens letrados não dicionarizaram a palavra
                                    para esse prazer entrelaçado
                                                             duas mulheres amarradas uma na outra
                                                             estimulam o apetite dos espectadores
como meninos em frente a uma loja de doces
         o grupo de homens de chapéus coco
                                                            se empurra para nos ver de perto
                                                            duas mulheres amarradas uma na outra
                               o indizível, nós somos
                                                            uma semente alada

Unknown / Perfil

Associação civil sem fins lucrativos formada por alunos do Instituto de Estudos da Linguagem, a Odisseia foi idealizada com o objetivo de preparar seus integrantes para o mercado de trabalho. Seus serviços oferecidos incluem coaching, revisão e análise crítica/parecer crítico; tópicos que estão, de certa forma, inseridos na criação dos cursos de Estudos Literários, Letras e Linguística. Além de oferecer esses serviços, a empresa busca estabelecer um vínculo maior entre os estudantes do Instituto de Estudos de Linguagem da UNICAMP (IEL) e o mercado editorial.

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