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quarta-feira, 8 de março de 2017

O desafio de leitura - Ulysses de James Joyce

Unknown

Por ser um romance muito extenso, excepcionalmente uma pessoa encararia Ulysses por simples curiosidade. Ao invés disso, na maior parte dos casos, Ulysses é lido pelo mesmo motivo pelo qual é evitado: pelo desafio da leitura.
 Sua classificação como “obra impenetrável”, primeiramente afasta muitos leitores. Independente de outras características do romance, Ulysses não é lido sem a prevista consideração, por parte do leitor, de que será trabalhoso. Ao mesmo tempo que a dificuldade impede que muitos prossigam a leitura, o desvendamento do romance é o que fascina seus admiradores.
Por ser também complexo, além de extenso, é difícil não se perder nas inúmeras referências, na falta de linearidade, nos focos narrativos e no vocabulário. É a própria estrutura do romance que desafia o leitor.
Joyce não restringe sua imaginação. A linguagem é enigmatica, utiliza formas de linguagem complexas, estrangeirismos, cria palavras, faz trocadilhos, referências literárias e históricas e utiliza diferentes técnicas narrativas como o “fluxo de consciência”.
Para ter sucesso na leitura, é melhor que não exista frustração com a absorção superficial dos conteúdos da obra. O leitor que quer ter da obra compreensão completa e imediata torna a leitura de Ulysses cansativa,  levando consequentemente à desistência.
A obra não foi criada para esse nível de compreensão, pelo menos não em uma primeira leitura. Para muitos, perder um detalhe ou informação significa perder o controle do desenvolvimento da leitura e progressão do enredo. Mas nesse romance, controle é também uma ilusão. As informações só aumentam e torna-se mais difícil guardar todos os detalhes na memória. As referências dadas pela narrativa não se agregam para formar um sentido coletivo e único ao romance. Os fragmentos são independentes uns dos outros, trazendo possibilidades diferentes de leitura, sem que cada detalhe seja essencial para a narrativa que seguirá. Muitas informações se completam ao longo do extenso e complexo romance, de forma que se torna difícil desvendar tudo na primeira leitura e sem guias externos. Nesse caso, guias podem ajudar, mas podem ser inconvenientes ou até desnecessários, uma vez que o leitor por si só pode estudar o romance a sua maneira, interpretação e entendimento. Dessa forma, as informações somariam-se conforme as releituras de Ulysses. Essa é a melhor forma de estabelecer conexões, tornar a leitura pessoal e desvendar o romance, que é afinal a parte recompensadora de se aceitar tal desafio de leitura.
Apesar de toda a dificuldade, Ulysses apresenta características que justificam a admiração de seus leitores. Cada episódio tem algo de único e desafiador, além de muitas vezes cômico. Bons exemplos são os monólogo de Stephen e de Molly nos episódios Proteu e Penélope, respectivamente, a ironia contra o jornalismo em Éolo, os trocadilhos com comidas em Lestrigões, as referências externas a Shakespeare e Hamlet em Cila e Caríbdis, o contraste do coloquial e do cientificismo em Ciclope, as paródias literárias em Gado ao Sol.
Não há dúvida de que a leitura é distinta de qualquer outra. Terminar a leitura pela primeira vez é certamente uma realização. Não pelo orgulho de tê-lo lido, mas pelo poder de saber que se trata mais do que um simples romance e tirar as próprias conclusões sobre ele. Como diz Ítalo Calvino, em Por que ler os clássicos: “ler os clássicos é melhor do que não ler os clássicos”. Pois essa é a única forma de saber o que os tornam exemplar.

Ulysses de James Joyce sempre será enigmático, mas revelador para aqueles que se dispuserem a querer desvendá-lo. A primeira leitura do romance não deve ser muito penosa àqueles que não se prendem aos detalhes para compor o geral da obra e tem a paciência e empenho de entrar progressivamente, através das releituras, no mundo que Joyce criou. 

Unknown / Perfil

Associação civil sem fins lucrativos formada por alunos do Instituto de Estudos da Linguagem, a Odisseia foi idealizada com o objetivo de preparar seus integrantes para o mercado de trabalho. Seus serviços oferecidos incluem coaching, revisão e análise crítica/parecer crítico; tópicos que estão, de certa forma, inseridos na criação dos cursos de Estudos Literários, Letras e Linguística. Além de oferecer esses serviços, a empresa busca estabelecer um vínculo maior entre os estudantes do Instituto de Estudos de Linguagem da UNICAMP (IEL) e o mercado editorial.

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