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quinta-feira, 10 de novembro de 2016

A máquina de fazer espanhóis, de Valter Hugo Mãe

Unknown
a máquina de fazer espanhóis é um livro de extrema sensibilidade. Escrito por Valter Hugo Mãe, conquista o leitor com reflexões que acometem todas as pessoas sobre a velhice e sobre o amor. Por meio de um formato pouco convencional, a máquina de fazer espanhóis é escrito inteiramente em letras minúsculas, além de não apresentar nenhuma marcação de diálogo. O romance tem como personagem principal um Silva, Antonio Jorge da Silva, barbeiro de 84 anos, que é mandado pela família a um asilo, após a morte de sua amada Laura, com quem compartilhou mais de meio século de vida. Convivemos, durante 250 páginas, com um idoso de luto que, apesar de não se expressar explicitamente, nos transmite os mais íntimos sentimentos e pensamentos humanos.

A história se passa no tempo presente, retomando a memória individual do senhor Silva, que representa a coletividade portuguesa dos muitos senhores Silvas. O passado de uma ditadura salazarista são memórias que todos os personagens têm em comum e que, momentaneamente, guiam a reflexão sobre o presente e os legados sociais para o país.

O asilo como espaço principal está repleto de figuras icônicas que marcam o leitor, assim como o próprio Silva que se vê exposto a um novo ambiente, tendo que se adaptar a uma nova vida. O Feliz Idade - que talvez coincidentemente nos lembre a palavra felicidade, mas uma denominação que entra em pleno conflito com a acertiva do senhor Silva que o encara como “o matadouro para onde fui mandado” - é dividido em duas alas. Na ala debaixo, encontram-se os quartos com janelas para o jardim, destinados aos velhos que ainda estão saudáveis. No andar de cima, lamentavelmente, viviam os idosos que encaravam a iminência da morte, era “a ala dos já descerebrados, aqueles que não fazem nada, senão esperar a hora de se entornarem janela abaixo para o cemitério”.

Nos deparamos, ao longo da leitura, com pessoas que influenciam a vida de Silva, fazendo-o sair de seu comportamento estático e imutável, repleto de tristeza, angústia e rancor, transformando-o naquele que não mais se cala diante dos próprios sentimentos e acontecimentos da vida. O Esteves sem metafísica é um desses senhores. Vindo diretamente do poema de Fernando Pessoa, A Tabacaria, o Esteves - aquele quem o poeta via sempre ir à Tabacaria e que não possuía preocupações transcendentais - foi o motivo de inúmeras discussões sobre o país e a importâncias da própria nação. Apesar de não ser um livro político, aqueles velhos, nos anos finais de suas vidas, levantam questionamentos extremamente pertinentes sobre a história recente de Portugal, sobre o pertencimento a uma pátria que é “uma máquina de fazer espanhóis”. A metafísica percorre todo o romance e ressignifica o que aqueles idosos pensam sobre o passado e os sentidos que dão à sua própria existência.

No asilo, rodeado por pessoas de sua idade, o Silva redescobre sentimentos e aprende a conviver com a dor da perda de um amor. Inúmeros são os momentos de rememoração sobre Laura, sua mulher, que com certeza teria amado conhecer o Esteves. Lá ele partilha o mesmo resto de destino de todos os idosos, com os quais não só aprende a conviver, mas faz verdadeiras amizades: “nunca eu teria percebido a vulnerabilidade a que um homem chega perante outro. nunca teria percebido como um estranho nos pode pertencer, fazendo-nos falta. não era nada esperada aquela constatação de que família também vinha de fora do sangue, de fora do amor ou que o amor podia ser outra coisa, como uma energia entre pessoas…”

a máquina de fazer espanhóis é um livro triste, mas antes de tudo é um livro que faz pensar sobre a vida, o amor, a velhice e a morte.

Unknown / Perfil

Associação civil sem fins lucrativos formada por alunos do Instituto de Estudos da Linguagem, a Odisseia foi idealizada com o objetivo de preparar seus integrantes para o mercado de trabalho. Seus serviços oferecidos incluem coaching, revisão e análise crítica/parecer crítico; tópicos que estão, de certa forma, inseridos na criação dos cursos de Estudos Literários, Letras e Linguística. Além de oferecer esses serviços, a empresa busca estabelecer um vínculo maior entre os estudantes do Instituto de Estudos de Linguagem da UNICAMP (IEL) e o mercado editorial.

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